WOOF, Berds!
Hoje eu vou pedir licença pra falar um pouco sério por aqui. Estejam avisados.
Na madrugada deste domingo, 12 de junho de 2016, um homem armado abriu fogo dentro da boate Pulse, na cidade de Orlando, no estado americano da Flórida. O atirador foi morto pela polícia.
50 pessoas morreram, até o momento, e mais de 50 ficaram feridas. Essas vítimas somos nós, cada um de nós. Elas estavam comemorando o Orgulho Gay, que está sendo celebrado em várias cidades dos EUA nesse fim de semana. Elas estavam em um dos NOSSOS lugares, um lugar que deveria ser seguro, onde poderíamos ser nós mesmos da forma mais livre e despreocupada. O assassino invadiu um dos nossos refúgios para fazer suas vítimas. Nós todos precisamos nos solidarizar com elas, e entender que poderíamos ter sido nós. Que SOMOS nós, todos os dias, quando um crime como esse acontece.
Enquanto se descobre tudo o que há por trás dessa barbaridade, algumas coisas precisam ser ditas:
1ª – Numa ironia cruel, hoje é comemorado o Dia dos Namorados no Brasil. Mas, quando você não tem segurança pra segurar a mão do seu namorado (ou namorada) em público, quando não pode viver seu amor e seu relacionamento abertamente, por medo do preconceito e da violência, o que devemos, exatamente, comemorar?
2ª – No Brasil, não temos essa “tradição” horrorosa de atiradores em massa, como nos EUA. Mas a violência homofóbica aqui está muito viva e passa muito bem. Os índices de violência homotransfóbica aqui são altíssimos. Os mesmos preconceitos que resultam nesse tipo de tragédia por lá também causam estragos e mortes por aqui. Ao que se sabe, a motivação do ataque é homofóbica. O pai do assassino, em entrevista, disse que o filho havia ficado transtornado dias antes, ao ver dois homens se beijando na rua. Assim como inúmeros casos de ataques, agressões, espancamentos e assassinatos que acontecem por aqui.
Então, se você é dos que acha que lutar contra a homofobia é mimimi, ou que não precisamos nos preocupar com isso, ou que nunca será atingido por que “se dá ao respeito” ou “não dá pinta”, pare e repense toda a sua vida, comece tudo de novo. Você é parte do problema.
3ª – Nós passamos por um momento, no Brasil, em que há um levante de vozes reacionárias, conservadoras e extremistas. Nunca tivemos a liberdade que temos hoje pra ser o que somos, mas a contrapartida é que gente preconceituosa, homofóbica, machista, racista e escrota reage aos avanços da sociedade com hostilidade e violência. Nós NÃO PODEMOS nos dar ao luxo de baixar a guarda. Não se acomode. Fique atento às notícias, fique atento aos políticos, fique muito atento às eleições. FIQUE ATENTO.
4ª – Sempre que for possível, SE ASSUMA. Se assuma no trabalho, se assuma pra família, se assuma pros amigos, se assuma pro balconista da padaria. É muito fácil temer e odiar quem não se conhece. É muito fácil, do alto de um palanque ou no púlpito de uma igreja, apontar um grupo inteiro de pessoas como o bicho-papão da vez, e dizer que elas deve ser odiadas. Enquanto nós formos esse bicho-papão, nós seremos sempre alvo dessa gente.
Quando nos assumimos, as pessoas em nossos círculos sociais não podem mais ignorar nossa existência. Quando você passa a ser o vizinho de alguém, o professor, o médico, o amigo, o irmão de alguém, essas pessoas são obrigadas a confrontar a realidade. E a realidade é que nós ESTAMOS em todos os lugares, não NÃO iremos embora e nós NÃO iremos voltar pros armários. Não dá pra apontar um grupo inteiro de pessoas como se fossem uma ameaça invisível e distante, se essas pessoas não tiverem vergonha de se mostrar. Nós precisamos, PRECISAMOS deixar de ser o bicho-papão que garante votos nas eleições e bundas nos bancos de igrejas.
E, acima de tudo, precisamos mostrar que não vamos aceitar esse tipo de situação. Precisamos reagir. Precisamos viver plenamente. E os mais jovens entre nós, os mais amedrontados entre nós, precisam saber que não estão sozinhos. Essas pessoas precisam saber que existem bons modelos em quem se espelhar, que é possível viver feliz sendo LGBT. Sejamos esses modelos.
Eu sei que há riscos, muito reais, em se assumir. Pessoas podem se afastar de você, familiares podem cortar relações com você, talvez o seu emprego ou até a sua vida fiquem em perigo.
Mas, se você puder, então, por favor, eu imploro: SE ASSUMA.
5º – Por último, se você é um aliado: Por favor, SEJA UM ALIADO. Não fique ofendido quando seu amigo gay que já tá cansado de levar coió na rua reclamar dos heteros ou evangélicos. Não se apresse em corrigi-lo dizendo que “ah, mas nem todo hetero…’. ELE SABE DISSO, eu prometo. O que ele, o que eu, o que nós precisamos, é de aliados que reconhecem que não importa que nem todo hetero é homofóbico, mas que todo gay tem que lidar com a homofobia todo dia (inclusive no próprio meio). E precisamos do seu apoio.
Sabe quando aconteceu o caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro e teve aos montes aquele cara que correu pra mostrar o quanto estava mais incomodado com a generalização do sexo masculino como estuprador do que com o fato de uma menina de 16 anos ter sido estuprada por mais de 30 homens? Pois é, NÃO SEJA ESSE CARA.
Escute. Aprenda. Apóie no que puder.
Talvez você nem saiba, mas pode estar ajudando seu melhor amigo, ou seu irmão, ou sua filha, ou até sua mãe. A gente agradece, de verdade.
É isso, pessoal. Se cuidem, e cuidemos uns dos outros.
Abraços.
James Figueiredo
Co-Editor do Bear Nerd
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