Hoje o Bear Nerd traz até você o trabalho de Enrico Vargas. De ilustrador a radialista, o criador do projeto Toca Três nos conta um pouco da sua história, compartilha de suas influências, inspirações e conversa sobre seus trabalhos futuros.
BN – Em primeiro lugar, obrigado por participar aqui do projeto Bear Nerd. Mas vamos começar do básico: fale-nos um pouco sobre você, como se descobriu nerd e urso?
Não sei dizer se sou 100% nerd, desde que nasci sempre manifestei talentos artísticos, não gostava de jogar bola, nem era competitivo como os outros meninos… juntando tudo isso a animação e os quadrinhos se tornaram prioridade em minha vida desde cedo.
Com a proximidade da adolescência eu fui me cansando desse mundo mais introspectivo e comecei a me enturmar com a galera mais “popular” da escola. Paqueras, festas e roupas de grife começaram a fazer parte do meu cotidiano.
Eu não cheguei a deixar de lado a minha nerdice, também não fazia segredo dos meus gostos, mas ler HQs e assistir desenhos animados era algo que fazia no meu tempo livre.
Naquele tempo não tínhamos internet, os nerds não tinham voz, um nerd era rotulado como o CDF, o cara que não tinha vida social e que não comia ninguém… rejeitei esse rótulo e me tornei o cara “alternativo” da turma.
Falando em “não comer ninguém” vamos para a 2ª parte da pergunta… assim como a descoberta do nerd em mim, a descoberta do urso também teve todo um caminho a ser percorrido… tive minha primeira experiência sexual com uma mulher aos 16 anos, e a primeira experiência homossexual aos 18, até então eu não sabia que era gay e depois disso eu acreditei ser bissexual. De fato eu fui bissexual até os 30 anos, quando comecei a perceber que gostava cada vez mais de homens e me interessava cada vez menos por mulheres. Enfim, me descobri urso pela identificação mesmo, afinal, sou grande, gordo, peludo… e a preferência por ursos veio de todo esse período de experimentação mesmo.
BN – Como surgiu o projeto Toca Três?
O Toca Três é fruto de uma série de eventos inesperados na minha vida. Depois de mais de uma década trabalhando como ilustrador eu me encontrava num momento de crise… minha vida pessoal estava de pernas pro ar, minha carreira estava em declínio e eu estava falido.
Depois de meses resolvi que estava na hora de sair daquela rotina de passar os dias conectado a internet enviando currículos, comecei a pesquisar e entre cursos de velas e sabonetes eu encontrei esse curso de locução para rádio e TV aqui em Porto Alegre. Fui ao local do curso buscando informações e saí de lá matriculado em uma turma que estava começando no dia seguinte, bastou o primeiro exercício de leitura em estúdio pra eu descobrir que nasci pra me comunicar… foram 48 horas que mudaram minha vida.
Fiquei muito satisfeito com o meu desempenho, e imediatamente após o termino do curso dei entrada no meu registro profissional no MT, estava determinado a ingressar nesse meio.
Acontece que não tinha experiência profissional como radialista, daí veio a idéia de gravar “simulações” de programas de rádio para anexar ao currículo. O Toca Três nasceu quando buscava uma musica para o 1º programa e me deparei com várias versões dessa mesma musica… uma lampadinha acendeu na minha cabeça, e tudo surgiu automaticamente, conceito, nome, formato e etc…
BN – O processo de busca de música é complicado?
É trabalhoso, mas não é complicado, sem falsa modéstia sou um pesquisador habilidoso e rápido, basta decidir qual musica quero apresentar no programa e começo a cavocar como um wolverine.
Teve um dos programas que ficou pronto em uma tarde, daí foi só começar a gravar (que é a parte mais divertida de todo o processo).
BN – Agora falando um pouco sobre quadrinhos: Marvel ou DC? E porquê?
Vou contar minha Origem Secreta, eu não sou dessa Terra aqui, sou da Nova Terra… eu estou aqui desde Crise nas Infinitas Terras, e como esse mundo aqui não tem tecnologia avançada o suficiente para me mandar de volta para casa, eu mato a saudade lendo todas as HQs da DC Comics.
BN – Eu tinha aquele card do Asa Noturna que você desenhou. Como surgiu a oportunidade de desenhá-lo?
Essa série de cards foi um serviço encomendado pela Editora Abril à Fábrica de Quadrinhos em 1999, nessa época eu trabalhava lá e esse foi um dos trabalhos que fiz pra FQ.
BN – Eu gostei muito da série de desenhos “…feeling” que você publicou em seu blog. Foi uma coisa meio autobiográfica?
Não é autobiográfico, o personagem nem mesmo se parece comigo.
A idéia veio quando eu estava fazendo uns rabiscos enquanto assistia TV, acabou saindo o “feeling natural” (que ainda não tinha esse nome), me afeiçoei ao personagem (você também é desenhista, já deve ter passado por isso) e naquele momento acabaram saindo mais dois, no dia seguinte fiz o resto.
Enquanto desenhava, fui percebendo que o padrão criativo se baseava em sensações/sentimentos.
O titulo de cada desenho dessa série expressa a sensação e o sentimento que eu tinha e que queria transmitir ao produzir cada imagem.
BN – Algum projeto de quadrinhos em mente para o próximo ano?
O ilustrador está aposentado, desenho agora pra mim é hobbie.
Quando estava passando pela crise que mencionei no início da entrevista, eu percebi que o ofício de desenhar havia se tornado um fardo, não tinha mais o menor prazer.
Decretar o fim do projeto de uma vida inteira foi difícil, mas o curso de locução acelerou e amenizou o processo de luto, e a descoberta de um talento que até então eu desconhecia foi o combustível que eu precisava para encarar os novos caminhos que se revelavam diante de mim.
Eu não deixei de ser desenhista, só não quero mais ser um profissional do desenho.
Claro que eu ainda tenho muitas idéias e pretendo colocá-las em prática, mas são todas autorais e fazem parte de projetos de médio a longo prazo, nada para este ano… a prioridade agora é a locução.
BN – Bom, novamente agradeço pela entrevista. E esse espaço é seu: deixe o seu recado!
Meu recado aqui vai contra toda uma corrente que repete a exaustão o mantra pré-fabricado: “nunca desista de seus sonhos”.
Eu desisti de um sonho, desisti de sofrer, porque estava cansado, porque sonho é coisa que se faz dormindo, realizações só acontecem quando estamos acordados.
Toca Três é uma realidade, e não pretendo parar tão cedo.
Registro aqui minha gratidão ao projeto Bear Nerd pela oportunidade, e pra finalizar ao estilo Toca Três… BEJÃO!
Segue os links para vocês acompanharem os trabalhos do Enrico:
Para assistir aos Toca Três anteriores: http://tocatres.podomatic.com/
O Twitter do Enrico: http://twitter.com/TocaTres
E o seu Blog: http://nfideia.blogspot.com/
E para finalizar, uma pequena coletânea de trabalhos do Enrico:
E fiquem ligados, que o Bear Nerd terá o prazer publicar o Toca Três aqui no blog. Afinal, toda boa leituira merece uma boa trilha sonora…
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8 respostas
Cada vez mais gostando do bearnerd.
Muito bom ler aqui o historico de amigos virtuais.
Conhecemos o Enrico e nunca tinhamos visto esse desenho dos flintstones com o simpsons. Genial. Fora o TOCATRES que sempre alardeamos por ai, que é demais. Parabens.
Vida de Dois Ursos
esse desenhos do Flintstone & Simpson é na verdade um “rascunho” feito a caneta esferográfica e colorizado meio as pressas.
Sempre tive a intenção de fazer um mais bem acabado, quem sabe em breve…
(e eu tenho uma pasta de “proibidões” cheia de coisas desse tipo).
Gostei muito da reportagem.
Parabéns!
Não conhecia a etapa de ilustrador do amigo Enrico.
Abraços.
Mandando muito bem, ByM!
Parabéns pela entrevista, e ao Enrico pelo trabalho!
Grande abraço,
J.
Gostei muito da reportagem.
Parabéns!
Não conhecia a etapa de ilustrador do amigo Enrico.
Abraços.
Cada vez mais gostando do bearnerd.
Muito bom ler aqui o historico de amigos virtuais.
Conhecemos o Enrico e nunca tinhamos visto esse desenho dos flintstones com o simpsons. Genial. Fora o TOCATRES que sempre alardeamos por ai, que é demais. Parabens.
Vida de Dois Ursos
esse desenhos do Flintstone & Simpson é na verdade um “rascunho” feito a caneta esferográfica e colorizado meio as pressas.
Sempre tive a intenção de fazer um mais bem acabado, quem sabe em breve…
(e eu tenho uma pasta de “proibidões” cheia de coisas desse tipo).
Mandando muito bem, ByM!
Parabéns pela entrevista, e ao Enrico pelo trabalho!
Grande abraço,
J.