“Já vai tarde – SUMA!” Marcelo Cassaro para RPGistas homofóbicos

Adivinha quem ganhou XP no combate à ignorância e homofobia hoje?
Marcelo Cassaro, um dos autores do RPG Tormenta e criador/roteirista da HQ Holy Avenger, mandou um recado muito claro através do seu perfil no Facebook: se você é homofóbico e não aceita a diversidade, você não faz falta.

O barraco acontecido se deu devido ao projeto do jogo O Desafio dos Deuses no Catarse, um beat’em up (andar e bater) ao estilo Golden Axe baseado no cenário de fantasia medieval criado por Cassaro, Rogério Saladino e J.M. Trevisan (apelidados de Trio Tormenta). Como em todos os projetos de crowd funding, quanto mais a pessoa doa para a realização do projeto, maiores as recompensas que recebe. Uma dessas era a criação de uma arte original. E o ódio começou a aparecer quando uma das ilustrações foi divulgada: um beijo entre o Keen, deus da guerra, e Khalmyr, deus da justiça.

Diante de comentários como: “fiquei meio puto quando vi a primeira vez , logo khalmyr”, “Cara… acabou minha infância…”, “NOOOOOOOOOO! ESSE NÃO!”, “O pior de tudo é que o desenho é bom. Mas fazer um desses legal, de relevancia, com conteúdo, nada…”, “Nimb não jogou bons dados aos meus olhos”, “para velho  eu gosto de tormenta…”, “até tu Khalmyr meu filho, eu esperava da bicha louca do kenn mas depois de comer a Tenebra tu vens me aprontar uma dessas…”, qual deveria ser a atitude do autor? Cassaro teve uma posição absolutamente perfeita:

“Hoje ouvi que, após postar em meu perfil esta imagem (que foi uma das recompensas para a campanha do game O Desafio dos Deuses), alguns jogadores reagiram mal. Disseram, inclusive, que não jogariam mais Tormenta.

Não sei quem foram. Mas tenho um recado para eles.

JÁ VAI TARDE. SUMA. Nunca mais volte. Você não faz falta. Seu preconceito, ignorância e intolerância não são bem-vindos.

Tormenta — e também D&D, e a maior parte dos RPGs — é sobre DIVERSIDADE e DIFERENÇAS. É sobre grupos de aventureiros MUITO diferentes uns dos outros, seja em raça, religião, região de origem, estilo de vida. Aventureiros que usam essas diferenças a seu favor, para cobrir os pontos fracos dos companheiros. Tormenta é sobre tolerância, sobre aceitação do novo e desconhecido.

Sim, existem o anão e o elfo sempre se alfinetando. Existe preconceito — até ódio — racial em Tormenta. Existe intolerância — até guerra — entre cultos religiosos. Existe opressão, tirania, escravidão. Tudo isso é necessário para promover drama e conflito, necessário como fonte de desafios. Pois já foi dito, Arton é um mundo de problemas, esperando por heróis que os vençam.

Tudo isso é ótimo dentro de um mundo de campanha ficcional, dentro de um palco para aventuras.

NADA disso é aceitável no mundo real. Muito menos entre RPGistas. Essas pessoas (quase) sempre inteligentes, imaginativas, abertas ao novo.

Se você também pensa assim, seja sempre bem-vindo. O mundo precisa de gente como você. O mundo de Arton, e também este mundo.

Se não pensa assim, então você nunca entendeu este hobby. Peço que faça um esforço e tente novamente. Não é tarde. Todos podemos mudar.

Caso contrário, faça um favor a todos nós. Não jogue Tormenta. Não jogue nenhum RPG. Não precisamos de você nos envergonhando.

Muito obrigado. E mais uma vez, minhas desculpas àqueles que NÃO precisavam ler isto — ou seja, todos vocês que tanto nos orgulham como fãs de Tormenta”.

Todos nós do Bear Nerd agradecemos imensamente pelo apoio na luta contra a homofobia. A clareza da resposta do autor é de uma franqueza realmente admirável: quantas vezes já vimos um fornecedor de algum produto dizer claramente que aqueles que são contra os direitos iguais não devem comprar o seu produto? Num país de alianças escusas, sacrifícios em prol da governabilidade política e autores de ficção que pisam em ovos para tentar não ofender absolutamente ninguém (nem aqueles que os atacam regularmente), não podemos deixar esse episódio passar em branco.

Nossos sinceros parabéns ao Marcelo Cassaro pela forma clara e brutal com que colocou os homofóbicos em seu devido lugar. “Normal” é uma construção social. No mundo que queremos, dois deuses em formas masculinas se beijando é normal, e deixar de jogar porque o pensamento de que homossexuais existem e são iguais a você te revolta não é nada normal.

Procurem ajuda psiquiátrica!

Comenta aí, berd!

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