MENTIRA
autor: James Figueiredo
“Está tarde, né?” Diz, preocupado, o homem mais jovem.
“Hm-hmmm. Vem, a gente tem que ir.” Responde o mais velho. Veste preto. Seu rosto está o tempo todo um pouco fora do campo de visão do primeiro.
O céu da madrugada tem cor de chumbo. O velho hotel, que leva o nome do bairro, parece vazio. Os restaurantes estão fechados. Faz frio. Com exceção dos dois homens, que conversam no gramado central da avenida, está tudo deserto.
“Temos mesmo? É longe. Não tem ninguém na rua.”
“Anda, a gente precisa chegar lá. Não vai demorar.”
O mais novo percebe, com alguma surpresa, que o boteco pé-de-cachorro, em frente ao hotel, fecha suas portas. Se pergunta como não havia notado antes. O único estabelecimento que, numa avenida repleta de bares, inclusive um famoso entre os ursos da cidade, continua aberto. Também está vazio. Só o empregado solitário, de feições indefinidas, ainda está lá. Recolhe bancos e mesas, retira o lixo e, por fim, fecha as portas de metal. Desaparece de vista.
“Vem, vamos.” Insiste o mais velho.
Caminham. A cidade toda parece vazia, cinza e fria. A praça, perto do hotel, é de um silêncio lúgubre. Ruas, prédios, bares, tudo parece deserto. O McDonald’s da região, salvador habitual dos notívagos indo para as baladas ou voltando delas, está com as luzes apagadas. Fechado. Ninguém na rua, além dos dois homens.
“A gente tem MESMO que ir?” Insiste o primeiro homem. Quase um pedido.
“Temos sim, anda. Precisamos chegar lá.” Responde o segundo.
Andam por muito tempo e por algumas ruas que o mais jovem não reconhece. Sente uma apreensão insistente, caminhando naquele frio, naquele silêncio, pela cidade vazia. Teme que sejam assaltados, agredidos, que aconteça alguma coisa. Um sentimento incômodo. Mas está feliz, muito feliz, pela companhia.
“Você tá com medo, né?” Pergunta o mais velho.
Diante do silêncio do outro, oferece:
“Segura a minha mão, Peixe.”
Suas mãos se tocam.
O mais jovem abre os olhos. 4 e alguma coisa da manhã, vê pelo celular no criado-mudo. Está sozinho na cama. Inspira profundamente. Não consegue engolir completamente o choro.
Volta a dormir.
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